quarta-feira, 25 de maio de 2011

Puma concolor - Leão da montanha preso em garagem nos EUA...

Sem habitat

Família encontra puma em garagem de casa na Califórnia

25 de maio de 2011


Animal, que ficou 3 dias no local, foi sedado, examinado e solto. Inicialmente, os Taylors acreditavam que se tratava de um gambá.
Foto divulgada pelas autoridades locais mostra o puma na garagem. Foto: AP
Uma família da cidade de Hesperia, na Califórnia, levou um susto na terça-feira (24) quando encontrou um puma (Puma concolor) escondido dentro da garagem de casa.
Michelle Taylor, a dona da casa e mãe de cinco filhos, suspeita que o felino ficou preso no local durante três dias.
Ela lembra que, na semana anterior, os vizinhos afirmaram ter visto um grande felino rondando pelas casas, mas ela não levou os relatos a sério.
Na terça, seu marido foi olhar a garagem, de onde vinham ruídos estranhos. Eles pensaram que se tratava de um gambá ou outro animal pequeno, mas, quando ele se deparou com o felino, logo chamaram a emergência.
Depois de duas horas, o animal, um jovem macho, foi sedado por biólogos da autoridade estadual, examinado e solto no mato.
Fonte: G1

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Lembranças de uma onça caçada cruelmente


Lembranças de uma onça caçada cruelmente


Começou a escurecer e a esfriar, rápido demais, cedo demais, embora logo ali, fora daquela pequena ilha de mata seca cercada por pastagens e campos, algo comum nessa região, ainda houvesse sol e estivesse quente como era de se esperar. Entravam também sons difusos por seus ouvidos, reflexo da intensa dor. Esse seria um dia estranho para ela.

De fato, os últimos dias haviam sido diferentes. Aqueles seres que ela havia aprendido a evitar estavam muito agitados, assim como os seus acompanhantes caninos. Não entendia essa associação. Mas por experiência de quem já vira e sentira algo muito assustador acontecer quando aqueles animais se reuniam, melhor permanecer furtiva.

Andara bastante, como é do seu feitio. Quilômetros e quilômetros, passando por florestas, campos e fazendas, mas, nessas últimas áreas, sempre com cuidado. Bebeu água de riachos e lagoas, banhou-se nos rios. De noite, envolveu-se em caçadas que normalmente resultavam em uma refeição à base de porcos, capivaras, veados e tatus. Lembrou-se de uma presa particularmente interessante, relativamente grande, branca, carne macia que, vivendo em manada, normalmente invadia seu território. Impossível desprezar. De dia descansava no interior das matas, às vezes em cima de uma árvore. Preguiçosa, esbelta, linda.

Mas não nesse dia. A árvore não estava servindo como ponto de repouso mas sim de refúgio. Estava cansada porque, nesse caso, a caminhada era de fuga. Fuga daqueles seres com seus acompanhantes. Aqueles latidos que ouvia ao longe desde que nascera e que lhe traziam sensação de agonia agora estavam perigosamente pertos. Refugiou-se naquele pedaço de mata seca em que tanto descansara após suas atividades noturnas. Subiu na árvore que outrora foi sua plataforma de repouso. A preguiça transformou-se em estado de alerta máximo. Continuava, porém, esbelta e linda.

Era dia ainda, o sol estava forte. Aqueles seres chegaram, trazidos por cavalos e guiados pelos latidos. Uma última visão do seu mundo. O coração estava acelerado pois tinha medo, muito medo. Um som seco, e a pancada forte no pescoço a derrubou de sua árvore. Não havia como os perseguidores errarem pois haviam treinado antes com as capivaras, os veados e os jacarés. No chão, ainda mostrava os dentes aos seus algozes. Dentes poderosos. Já fizera isso várias vezes em sua vida, urrando pelas noites, avisando que estava ali, que aquele era seu território. Agora, aquele ato significaria um sussurro apenas, implorando para acabarem logo com aquilo. Não aguentava mais aqueles latidos junto aos seus ouvidos sensíveis, aquelas mordidas em seu corpo, aquele sangue a escorrer por seu pescoço. Covardes. Seria despida e degolada ali mesmo. Sua cabeça seria exposta junto a tantas outras em um local qualquer, com a mesma expressão de fúria mas sem urro, sem sussurro, sem preguiça, sem beleza, sem nada. Sua pele seria estendida. Tantas outras, pardas e pintadas, tiveram o mesmo destino nesses últimos dias, da mesma maneira.

Então fechou os olhos. Escureceu e já não sentia mais frio. Acabou. Por quê?



*Franco L. Souza é biólogo e professor do curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Leciona e pesquisa a história natural de vertebrados em ambientes naturais e antrópicos.
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terça-feira, 17 de maio de 2011

Crime ambiental! Tio e sobrinho são presos com armas e aves abatidas!

(de http://www.notisul.com.br/n/seguranca/tio_e_sobrinho_sao_brpresos_com_armas_e_aves-29148)


Crime ambiental

Tio e sobrinho são presos com armas e aves

Na casa de um deles, foi encontrado um fuzil FAL 762, de uso restrito do exército. A polícia também apreendeu 22 espingardas e 15 aves.
16 de Maio de 2011 às 23:06min
Mirna Graciela
Pedras Grandes
 
Tio e sobrinho, de 43 e 28 anos, foram presos em flagrante ontem, em Pedras Grandes. Após dois meses de investigação, em cumprimento a um mandado de busca e apreensão, a Polícia Militar Ambiental de Laguna apreendeu nas residências de ambos 22 espingardas de vários calibres, um fuzil FAL 762, de uso exclusivo do exército, e 15 aves silvestres.  
 
Os dois são moradores do bairro Ribeirão da Areia e foram conduzidos à delegacia da cidade e depois ao Presídio Regional de Tubarão. Os acusados serão indiciados por posse de arma de uso não permitido, munição de uso restrito e arma de fogo com sinal raspado, e por crime ambiental. Segundo o sargento Clésio Justino dos Santos, da Polícia Ambiental, existe a suspeita de que mais pessoas pratiquem este tipo de crime na região.
 
Na casa do mais novo, foram encontradas seis armas, munições de diversos calibres e material para recarga de cartuchos. Na do mais velho, estavam 17 armas, também de vários tamanhos, e o fuzil. Nas duas casas, os policiais localizaram ainda objetos para atrair aves, como simuladores de canto e fitas cassetes, bem como iscas de madeira. As aves apreendidas foram levadas ao Centro de Triagem da Polícia Militar Ambiental de Florianópolis. A operação iniciou às 6h30min de ontem, por três equipes da Ambiental, um total de 12 policiais.

CAÇA ILEGAL! Homens flagrados com armas em Pirabeiraba, Joinville.

Três homens são flagrados com armas em Pirabeiraba, uma delas de fabricação caseira, além de instrumentos utilizados para caçar.




Qua, 11 de Maio de 2011 17:14
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Nesta manhã, 11 de maio de 2011, por volta do meio dia, policiais militares da 3ª Cia do 8º Batalhão realizavam rondas de rotina pela Estrada Palmeira em Pirabeiraba quando avistaram um homem portando uma espingarda, no pátio de uma residência. O mesmo tentou fugir, mas os policiais militares o detiveram no mesmo lugar, onde teve que ser algemado por resistir à prisão. Nesse instante, dois homens apareceram e entraram em luta corporal com os policiais militares, para libertar o detido.
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Esses dois homens, posteriormente identificados como MARCOS MOGLICH de 37 anos e GILSON MOGLICH de 35 anos também foram imobilizados e detidos, mas o primeiro conseguiu fugir mesmo com as mãos algemadas. Os dois afirmaram que as armas encontradas no local pertenciam ao homem que fugiu. Diversos policiais militares realizaram um cerco, mas até o momento não localizaram o fugitivo.
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Na residência de Marcos, próxima dali, foi encontrada uma espingarda de pressão, uma arma de fogo de fabricação caseira utilizada para caçar, um mecanismo artesanal para recarregar munições além de nove aves silvestres, armadilhas para caçar tatu e um isopor com carne de caça de origem desconhecida. O homem que fugiu foi identificado como VALDENEI NARDES de 36 anos e ainda não foi localizado.
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Os outros detidos foram levados a Central de Polícia juntamente com o material apreendido.
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(Fotos: Cabo Polsin - 3ª Cia/8º BPM)
 

Comandante
: Tenente Coronel Edivar Antônio Bedin
© 2010 - Polícia Militar de Santa Catarina - 5ª Região - 8º Batalhão
Rua Aquidaban, 75 - Glória - Joinville - Santa Catarina - CEP 89.216-295
Email8bpmcmt@pm.sc.gov.br | DesenvolvimentoComunicação Social - P5

(de http://8bpmsc.inf.br/portal/index.php/ocorrencias/38-destaques/1082-tres-homens-sao-flagrados-com-armas-em-pirabeiraba-uma-delas-de-fabricacao-caseira-alem-de-instrumentos-utilizados-para-cacar)

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Cosmos: história de uma onça urbana

Tadinhos dos pumas!



Fotografia desse macho tirada em abril de 2009, por armadilha fotográfica (Márcia Rodrigues).
Peter G. Crawshaw Jr.*
Comecei a ficar preocupado. A onça em cima da mesa de cirurgia dava mostras evidentes de que estava se recuperando rapidamente dos efeitos do anestésico, já querendo se levantar. No entanto, o veterinário Marcelo Telles, do Zôo de Paulínia, SP, continuava, com invejável sangue frio, suturando um corte aberto, resultante do arame do laço armado para capivara em que o animal tinha caído, uns dias antes. Pelo menos a minha parte já estava pronta, tendo já coletado os dados biométricos e colocado o colar com rádio transmissor VHF no pescoço desse macho adulto de onça-parda, de 50 kg. Tivemos que evacuar rapidamente a sala, pedindo que as mais de 20 pessoas, entre técnicos e estudantes e pessoal das emissoras de rádio e televisão, se retirassem. Com os últimos pontos fechando o ferimento, tivemos que usar de força para conter o animal e em cinco pessoas, conseguimos, com alguma dificuldade, colocá-lo dentro da caixa-transporte, na qual ele seria levado para a soltura. Felizmente, o animal não demonstrou nenhum sinal de agressividade, estando apenas, compreensivelmente, agitado.



Fotografia do mesmo animal depois de capturado, no Zôo de Paulínia, em fevereiro de 2010 (Correio Popular de Campinas). Comparar os cortes nas orelhas, das duas fotos.
Seguimos em caravana, de uns 7-8 carros, para o local pré-definido para retornar o Cosmos (assim chamado pelo pessoal do zôo em função do local onde ele havia sido capturado) à natureza. Para chegar ao destino, nas várzeas do Rio Atibaia, em Paulínia, SP, atravessamos quilômetros de estradas estreitas dentro de extensos canaviais. Coincidentemente, antes da sua captura inadvertida por um caçador ilegal, esse macho havia sido fotografado várias vezes pelas armadilhas fotográficas utilizadas em um projeto de pesquisa conduzido pela minha colega Márcia Rodrigues, do Cenap (Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros – antes Predadores...). O Cenap é um centro especializado do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBIO, autarquia do governo federal responsável pelas unidades de conservação brasileiras. Chegando ao local, a caixa de transporte foi descarregada e colocada com a porta tipo guilhotina virada em direção à mata. O mais difícil foi manter o silêncio necessário junto aos repórteres das diferentes emissoras de rádio e televisão, cada qual querendo garantir o melhor ângulo de filmagem e gravação. Ao final dos primeiros 15 minutos, eu já não conseguia esconder minha irritação e eles certamente não acharam muito simpática minha atitude, repetidamente pedindo silêncio. Como resultado, obviamente o animal se recusava a sair da segurança e do escuro da caixa. Os minutos passavam e o pessoal ficava mais impaciente. Finalmente, conseguimos que a maior parte das pessoas deixasse o local, garantindo que depois cederíamos as imagens da soltura. Com o silêncio, e com algum estimulo, o animal finalmente saiu da caixa, mas ao invés de entrar no mato, deitou-se, ainda tonto, na estrada (abaixo).



Soltura do macho Cosmos, dia 08 de fevereiro de 2010.
Passaram-se ainda mais uns 45 minutos até que ele se animasse a caminhar, a passos trôpegos, pela estrada entre a mata e o canavial. Quando finalmente ele desapareceu da nossa visão, foi para o lado da cana-de-açúcar, e não para dentro da mata. Para mim, esse foi um indicativo de como esse tipo de paisagem, que atualmente cobre a maior parte do estado de São Paulo, passou a ser um dos habitats utilizados por essa espécie de grande predador. E essa capacidade impressionante de adaptação tem ajudado a onça-parda (ou suçuarana, Puma concolor, o mesmo puma-vilão dos filmes do Walt Disney), a recuperar e recolonizar áreas de onde ela havia sido extinta, nos últimos 50 anos.


Prova disso é que o caso do Cosmos não foi uma ocorrência isolada. A Associação Mata Ciliar é uma organização não-governamental, com sede em Jundiaí, na grande São Paulo, que mantém o Centro Brasileiro para a Conservação dos Felinos Neotropicais e o Centro de Reabilitação para Animais Silvestres desde 1997. Até 2009, a associação nunca havia recebido chamadas envolvendo onças pardas. No período de março de 2009 a setembro de 2010, foram registradas pela AMC 11 ocorrências com onças pardas, apenas na região metropolitana de Campinas!  Recentemente, eu fui convidado pela veterinária Cristina Adania e Jorge Bellix, responsáveis pela associação, a participar de uma coletiva de imprensa, sobre a soltura de outra onça-parda, apelidado de Anhanguera, por ter sido atropelado por um veículo nessa rodovia. O motorista responsável, reconhecendo o inusitado da situação, e em uma atitude louvável, imediatamente acionou a Polícia Ambiental, que solicitou a ajuda do pessoal da Mata Ciliar. A foto 4 mostra o momento quando o animal foi resgatado, depois de anestesiado com um dardo tranqüilizante.



Macho jovem de onça-parda atropelado na rodovia Anhanguera, sendo resgatado, depois de anestesiado pela veterinária Cristina Adania, da Associação Mata Ciliar, em setembro de 2009.
O animal, um macho ainda novo, a julgar por sua dentição muito branca e com muito pouco desgaste, estava provavelmente em pleno processo de dispersão, característico de quando um filhote, com cerca de um ano de idade, já adquiriu sua independência nutricional, tendo já aprendido da mãe todo o necessário para sobreviver sozinho. Nesse momento, um dos mais dramáticos na vida de uma onça, a própria mãe força o filhote a deixar a área natal, e sair à procura de um território próprio. Somente a partir do estabelecimento desse território, um macho será aceito por uma fêmea residente, para atuar como reprodutor e garantir a introdução dos seus genes na população local. É durante essa fase que se verifica a maior mortalidade para os jovens machos. Eles atravessam territórios desconhecidos, cheios de perigos, não somente advindos de outros machos, que defendem seus próprios territórios da invasão de transientes, mas também – e principalmente – ter de enfrentar todas as modificações estranhas e hostis, em uma paisagem que está bem longe de ser o ambiente natural em que a espécie evoluiu por milhares de anos. Não é raro, hoje em dia, um desses animais aparecer dentro de casas, construções abandonadas, ou procurar abrigo em cima de uma árvore, nos arrabaldes de cidades, muitas vezes acuado por cachorros de rua. Frequentemente, a imprensa noticia casos como esses até mesmo em cidades grandes, em vários estados do país. Na verdade, nos últimos cinco dias, eu recebi informações de mais dois animais atropelados, e que sobreviveram. Um deles foi uma onça-parda na região de Jaboticabal, SP, e o outro, uma onça-pintada no estado de MT.


O doutorando Marcel Penteado, orientado pela Dra. Eleonore Setz, da UNICAMP, e pelo Dr. José Eduardo Mantovani, do INPE, também tem acompanhado várias ocorrências com suçuaranas, nos últimos 10 anos, em cidades da RMC, como Sousas, Joaquim Egídio, Morungaba, Valinhos, Vinhedo e Itatiba. Dois outros machos, um adulto e um jovem, foram atropelados e mortos em estradas vicinais, não tendo tido a mesma sorte do Anhanguera. Apesar da persistência destes animais na região não foram registrados muitos casos de predação de rebanhos efetivamente ocasionados por suçuaranas.


Uma destas suçuaranas, apelidada M1 ou Rock, foi capturada em junho de 2009 e recebeu um radio-colar com GPS e satélite, que possibilitou o seu monitoramento durante cerca de seis meses. O equipamento é similar ao utilizado para rastrear automóveis e caminhões, em que localizações periódicas diárias são gravadas no receptor de GPS do colar, as quais são repassadas a intervalos pré-definidos para o satélite, e depois retransmitidas para uma estação de pesquisa, chegando ao pesquisador pelo seu email. Embora radio-colares com GPS estejam entre o que existe de mais avançado para o rastreamento de animais de médio e grande porte, alguns projetos que utilizam esta ferramenta ainda sofrem com falhas no equipamento. No caso do M1, houve problemas com a transmissão de dados em tempo real via satélite, devido à quebra de uma antena no próprio colar. Entretanto, as localizações diárias foram registradas e armazenadas na memória do equipamento. Quando o problema no colar foi detectado, foi acionado um outro dispositivo remoto, que fez com que o colar se abrisse e caísse do animal, permitindo a sua recuperação pela emissão de sinais em freqüência VHF. O resgate do colar demandou dois sobrevôos e dois dias de busca no campo, mas ele foi encontrado e foram recuperados todos os dados referentes aos deslocamentos do animal durante o período monitorado. As quase 900 localizações registradas permitiram uma análise detalhada dos padrões de deslocamento do animal, incluindo a distância diária percorrida, a sua velocidade média, as áreas preferidas, o quanto se aproximou efetivamente da zona urbana e a frequência com que isto ocorre, entre outras informações importantes. Utilizando outro tipo de equipamento este nível de detalhamento nos resultados não seria viável.


As localizações acumuladas até o momento mostraram que esse animal teve preferência por remanescentes florestais e matas ciliares, embora comparativamente as áreas destinadas às plantações e canaviais sejam muito maiores. Também não foram frequentes às vezes em que se aproximou da zona urbana e de rodovias. É bem provável que parte do padrão de movimentação adotado por este animal seja atribuído à predação em capivaras, abundantes em toda a RMC. Deste modo, as suçuaranas estarão certamente contribuindo para o controle da população desta espécie de roedor, conhecido hospedeiro de carrapatos que são vetores de doenças potencialmente importantes, como a febre maculosa. Outras espécies de presas presentes na região são tatus e veados, tendo carcaças dessas espécies já sido encontradas predadas.


Embora a área utilizada por esse animal seja bastante grande, sabe-se que existe sobreposição de áreas, em que vários animais podem compartilhar partes do mesmo território, já tendo sido registrados fotograficamente até cinco indivíduos diferentes no mesmo ponto de monitoramento. Nesses casos, geralmente as áreas constituem limites entre territórios de animais diferentes, vizinhos, onde a deposição de urina, fezes, arranhões e outras formas de comunicação visual e olfativa é muito mais freqüente. Um fato que chama a atenção sobre o monitoramento de dois dos animais aparelhados, o M1 e o Cosmos, é que eles têm utilizado territórios vizinhos, sem que nenhuma sobreposição tenha sido detectada até o momento, divididos pela estrada Paulínia/Cosmópolis (SP-332). Como parte das pesquisas sendo realizadas nos diferentes projetos, será possível determinar, muito em breve, se existe algum parentesco entre esses dois machos adultos vizinhos.


Segundo o Dr. Luciano Verdade, professor da USP/Esalq (e antigo colega, quando estávamos em Gainesville, na Universidade da Florida), casos como esses evidenciam a capacidade adaptativa que certas espécies, mesmo de carnívoros de médio e grande porte como o puma, vêm demonstrando em resposta às inúmeras e profundas alterações ambientais causadas pelo homem. Para compreender tais processos adaptativos, é preciso ter em mente dois aspectos ligados ao tempo. Mesmo no Brasil, certas áreas já sofreram profundas alterações, principalmente ligadas à expansão da agricultura. Do ponto de vista evolutivo, o tempo deve ser contado não em meses ou anos, mas em número de gerações. Assim, para pequenos roedores, 200 anos representam cerca de 200 gerações! Mesmo para animais mais longevos, que têm intervalos mais longos entre gerações, esse tempo já é suficiente para a ocorrência de um número relativamente grande de gerações. Para o ser humano, por exemplo, 200 anos seria o tempo suficiente para oito a dez gerações, mas para o puma, é suficiente para 40 ou 50 gerações, o que já permite um processo evolutivo do ponto de vista da mudança do patrimônio genético da população de uma espécie, em resposta a um processo seletivo. E nem é preciso lembrar o quanto nossas pressões antrópicas são fortemente seletivas! Em relação a elas, há apenas dois caminhos às espécies silvestres: a extinção local ou a adaptação. No caso de espécies como o puma, mesmo em alterações ambientais de prazo mais curto, há a possibilidade de processos de “aclimatação”, ou adaptação fenotípica (por exemplo, fisiológica ou comportamental), que ocorre ao nível do indivíduo, dentro de uma única geração. De um lado, não deixa de ser um alento saber que uma parte das espécies silvestres consegue sobreviver em paisagens dominadas por canaviais ou eucaliptais. De outro, no entanto, há uma questão filosófica ligada à possível perda de seu caráter selvagem e a nosso direito – ou não – de intervir de forma tão profunda não apenas nos padrões de distribuição e abundância das espécies de nossa fauna e flora, mas também – e principalmente! – no processo evolutivo que as molda.


A Márcia, no final do ano passado, pediu transferência do Cenap para assumir o cargo de responsável por uma das poucas áreas de conservação remanescentes na RMC, a ARIE (Área de Relevante Interesse Ecológico) do Matão de Cosmópolis, no município do mesmo nome. Embora com apenas 173 ha, sua área se torna um ponto de apoio fundamental em um sistema de pequenas ilhas de mata que ainda sobraram na região, dentro do conceito de “stepping stones”. Outro colega e amigo meu, Dr. Laury Cullen, do Instituto de Pesquisas Ecológicas, tem popularizado o conceito das onças como detetives ecológicos, em que elas nos mostram, através do monitoramento intensivo pela rádio-telemetria, quais são os pontos importantes que elas utilizam no mosaico da paisagem, entre os seus componentes naturais e antrópicos. A Márcia está encabeçando uma iniciativa para a criação de um Corredor Ecológico das Onças na RMC (ver mapa), se unindo a pessoas e instituições comprometidas com a causa, incluindo a participação de um procurador da República, da região de Campinas. O objetivo do projeto é “mostrar que um indicador do equilíbrio da biodiversidade da Região que compreende Matão, em Cosmópolis, até Santa Genebra, em Campinas, é a preservação da onça-parda e encontrar uma maneira, em conjunto com os diversos agentes sociais (stake-holders), de preservá-la. A mais recente conquista da Márcia foi a aprovação do projeto “Pagamentos por Serviços Ambientais no Corredor das Onças da RMC” pelo FUNBio, no processo seletivo da Chamada 05/2010 para o Tema 4 – Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), no âmbito do Projeto Mata Atlântica II – AFCoF II. O projeto tem como objetivo elaborar e executar um “Plano de Pagamento por Serviços Ambientais” (PSA) pela conservação da biodiversidade na Região Metropolitana de Campinas, utilizando a onça-parda como espécie bio-indicadora. A estratégia p/ viabilizar o corredor ecológico das onças é a comercialização de créditos de carbono para recuperar e proteger a vegetação florestal nas áreas de circulação das onças. Desta forma, uma indústria ou empresa interessada na neutralização voluntária do carbono emitido por suas atividades (ou como parte delas) compra cotas de carbono em sumidouros, que são as áreas reflorestadas ou mantidas como parte do corredor das onças. Caso seja confirmada a presença de onças nas propriedades rurais participantes do projeto, o proprietário rural receberá um prêmio, na forma de um pagamento adicional pelos serviços prestados, e a indústria ou empresa, se quiser receber o selo “Empresa Amiga da Onça” pagará um pouco a mais pela tonelada de carbono. Este adicional pago será repassado ao proprietário do sumidouro de carbono como pagamento por serviços de conservação da biodiversidade na RMC. Para dar transparência e credibilidade, o Programacarbono® fará a divulgação de inventários de emissões, o cadastro de sumidouros e o comércio de créditos de CO2 no Corredor das Onças. Essa é uma forma criativa de ligar a presença das onças, geralmente feita em uma conotação negativa, com ações e iniciativas no sentido de diminuir ou neutralizar efeitos prejudiciais de atividades poluentes de empresas da região. O projeto conta com as parcerias de várias instituições, entre elas o CENAP/ICMBIO, a UNICAMP, o Jardim Botânico de Paulínia e a Cia. Brasileira de Florestas Tropicais, entre outras.


Enfim, além dos pontos anteriormente mencionados pelo Luciano, para mim, a história das onças-pardas urbanas, contada aqui, também tem pontos negativos e positivos, que nos fazem refletir sobre a responsabilidade que, queiramos ou não, temos que assumir, como indivíduos e como sociedade. Por um lado, a própria capacidade de adaptação inerente da espécie permite que tenhamos oportunidade para conviver com um predador de topo de uma cadeia alimentar que, embora drasticamente modificada pelo Homem e suas atividades, pode chegar a atingir um equilíbrio no balanço entre espécies nativas e domésticas, praticamente no quintal das nossas casas. Por outro lado, para que haja espaço e segurança para ambos os lados, temos que aprender quais os limites de tolerância, que permitam uma convivência relativamente pacífica. Como já escrevi anteriormente, a conservação de grandes predadores é um teste importante da nossa capacidade de conviver com parcelas naturais (ou não mais tão naturais...) de ecossistemas nos quais foi moldada a nossa existência, e dos quais ainda dependemos para manter a qualidade dos recursos que sempre vão ser imprescindíveis para a nossa saúde e do nosso Planeta.


Primeiro corredor das onças da Região Metropolitana de Campinas.

Fonte: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio/MMA.)


*com Luciano Verdade, Márcia Rodrigues, Cristina Adania, e Marcel Penteado 




terça-feira, 3 de maio de 2011

Projeto propõe a criação de corredor ecológico para salvar onça-pintada de desaparecer da Mata Atlântica

Projeto propõe a criação de corredor ecológico para salvar onça-pintada de desaparecer da Mata Atlântica

Publicado em maio 3, 2011 por HC
Projeto vai criar corredor entre Paraná e Santa Catarina que conecte populações isoladas da espécie na Mata Atlântica costeira
A onça-pintada, principal felino do País, está com os dias contados na Mata Atlântica. As populações da espécie têm hoje menos de 250 exemplares espalhados entre São Paulo, Paraná e Rio, graças a fatores como a exploração ilegal de palmito e a caça do animal, predador de gado. Para evitar o desaparecimento das onças, que estuda desde 1988, o biólogo Marcelo Mazolli propõe a criação de um corredor ecológico entre o Paraná e Santa Catarina. Reportagem de Gustavo Bonfiglioli – estadao.com.br
“As populações de onças da Mata Atlântica estão isoladas em pequenas regiões da Serra do Mar, sem conexão entre si”, explica Mazolli, fundador do Projeto Puma, ONG que realiza expedições pela Mata Atlântica para monitorar o animal em seu hábitat. Em parceria com a Biosphere Expeditions, instituição americana que recruta voluntários em todo o mundo para ajudar em expedições científicas, a ONG vai percorrer a região da baía de Guaratuba, no litoral paranaense, entre os dias 15 e 27 de maio. O objetivo é reunir informação científica para mapear e criar o Corredor do Tigre, para unir áreas povoadas por onças, chamadas de tigres pela população local.
Segundo Mazolli, o desenvolvimento da região separou populações de felinos, principalmente depois da construção da BR-277, que liga Curitiba ao Porto de Paranaguá, rodovia de tráfego intenso. “O corredor conectaria duas áreas núcleo, num total de 60 mil hectares”, explica o biólogo, que é doutor em Ecologia pela Universidade Federal do Rio GRande do Sul e integrante do Grupo de Especialistas em Felinos da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).
“Não há medida dos órgãos ambientais públicos para cuidar da conexão entre populações de onças na Mata Atlântica”, critica Mazzolli. Segundo o biólogo, os resultados da expedição vão fazer parte de um plano de manejo que será apresentado ao Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), mas ainda falta um bom caminho para que a questão vire política pública. “Existe uma tendência das instituições se voltarem à preservação de espécies ameaçadas que ainda apresentam grandes populações. Muitos têm medo de investir na preservação de uma espécie muito ameaçada pelo medo de fracassar. A onça-pintada ainda não é considerada criticamente ameaçada”, declara.
O declínio populacional das onças-pintadas na região está ligado principalmente à ação de extratores de palmito no entorno do Parque Nacional de Saint Hilaire/Lange, um dos principais redutos da espécie. O palmito-juçara, árvore típica da Mata Atlântica, é explorado de forma ilegal, o que compromete a vegetação nativa. “Para resolver esse problema, também temos projetos com as comunidades locais, para incentivar, por exemplo, o cultivo sustentável de açaí como alternativa para a atividade.”
Turismo científico. Na viagem ao Paraná, o Projeto Puma terá a Biosphere Expeditions como parceira. Malika Fettak, pesquisadora alemã que lidera expedições da Biosphere pelo mundo, explica que a instituição funciona como uma “ponte entre projetos científicos e voluntários leigos, mas mobilizados”. A ONG britânica, fundada em 1999, recruta colaboradores para participar de trabalhos de campo. Antes da viagem, eles são orientados pelos cientistas responsáveis e têm dois dias de treinamento antes de entrar na mata. Além disso, pagam um valor alto para participar: só a reserva é de R$ 800,00. “Às vezes os voluntários se assustam por terem que ‘pagar para trabalhar’, mas depois que explicamos com detalhes a complexidade dos projetos e das expedições, a maioria acha justo.”
A expedição terá um acampamento, onde fica a equipe e são realizados os treinamentos iniciais, equipamentos de monitoramento como câmeras-armadilha (que ficam escondidas na mata e disparam, graças a sensores, quando o animal passa) e carros com tração 4×4, cedidos pela Land Rover. “Também procuramos envolver as comunidades locais, que conhecem a região. Contratamos guias e pensamos em soluções sustentáveis para problemas ambientais da região com eles”, diz Malika. “Procuramos priorizar espécies que, além de ameaçadas, representem uma peça chave no ecossistema em questão, para que nossas ações também preservem aquele hábitat.” A Biosphere já organizou expedições científicas em vários países com espécies em risco, como Namíbia (guepardo), Rússia (leopardo da neve), Omã (leopardo árabe) e Honduras (recifes de corais).
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