terça-feira, 11 de outubro de 2011

Estado de Santa Catarina na rota do tráfico...

...de animais silvestres! Denuncie ao  IBAMA ou à Polícia Ambiental!


08/10/2011 | 07h10min

Santa Catarina é apontada como mercado receptor e rota do tráfico ilegal de animais silvestres

Polícia Ambiental já registrou 1.987 ocorrências de crimes de fauna até agosto

Gabrielle Bittelbrun | gabrielle.bittelbrun@diario.com.br
O tráfico ilegal de animais silvestres assusta médicos veterinários, policiais, especialistas, órgãos fiscalizadores e preocupados com a fauna. De acordo com a Associação Brasileira Veterinária de Animais Selvagens, a negociação ilegal dos bichos é a terceira maior no mundo, perdendo só para a de armas e a de drogas. A Polícia Ambiental de Santa Catarina registrou 1.987 ocorrências de crimes de fauna até agosto. A Polícia Federal (PF) do Estado informa que, só neste ano, foram apreendidos cerca de 400 bichos.

O Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis aponta que foram encontrados em torno de 1,2 mil animais nativos no tráfico ilegal. A última operação do órgão, finalizada no último dia 30, no Alto Vale do Itajaí, reteve 150 animais em dois dias. Eles já foram encaminhados a locais especializados, como zoológicos e centros de reabilitação ou de preservação das espécies.

Na maioria dos casos, os bichos são encontrados em precárias condições de sobrevivência, sem água e sem comida.
— Em uma das nossas apreensões, encontramos 71 animais, entre araras clorópteras, canindés, papagaios, morrendo de fome. Como eles precisam comer de duas em duas horas, tivemos que parar tudo e começar a alimentar um por um — conta o chefe do Núcleo de Operações da divisão de crimes ambientais da PF, Carlos Tavares da Costa.

Confira as fotos do Centro de triagem do Rio Vermelho

Mercado receptor
Os animais silvestres são os que naturalmente seriam criados em liberdade. Além deles, há a categoria dos animais domésticos, como gatos e cachorros, que passaram pelo processo histórico de domesticação do homem, e os exóticos, que não são nativos do Brasil, como leão e elefante. Vários tipos de animais silvestres estão no alvo do tráfico, como araras, tucanos, saguis e cobras.

Santa Catarina não é um berço comum dessas espécies, próprias das regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste. O Estado é apontado como um importante mercado receptor e como rota de passagem, onde os traficantes param para descansar e tentam alimentar e dar água aos animais. Mesmo assim, poucos bichos sobrevivem ao percurso.
— De 60% a 70% dos animais morrem no transporte. O tráfico é um crime duplamente qualificado, pela retirada do animal do ambiente e por causar a morte. — explica o professor Jorge Freitas, biólogo da UFSC.

Crime ambiental
Além do alto índice de óbito, os traficantes pegos enfrentam ações criminais. Entre as penas previstas para quem mata, persegue, caça, apanha ou utiliza espécie da fauna silvestre sem a devida autorização estão a multa ou até a detenção, em casos mais graves.

Segundo o agente Tavares, da PF, os traficantes insistem no negócio pela compensação financeira. Ele destaca que os preços dos bichos aumentam pelo risco de autuação, pela dificuldade de captura, pelo grau de extinção — animais mais raros são mais caros — e pelo trabalho no transporte. Uma arara azul de lear (Blue do desenho Rio), por exemplo, pode chegar a custar R$ 150 mil no exterior.

Mas até o senhor que pagou R$ 50 há anos para ter em casa um papagaio silvestre sem a autorização do Ibama comete crime ambiental. Como explica a coordenadora do núcleo de fauna do Ibama de SC, Gabriela Breda, a pessoa teve a opção de escolher um animal de estimação de um criadouro comercial legal, que não vai ameaçar a espécie e nem que traz sofrimento aos animais.

— O preço dos animais de criadouros legais é mais alto justamente porque eles têm que investir para os animais terem bem-estar, enquanto os outros, só tiram da natureza. Animal de tráfico é animal sofrido, jogado em qualquer canto — conta.

Para ter animal legal
Aqueles que não se contentam em ter um gatinho ou um cachorro têm alternativas para encontrar animais de estimação diferentes e de acordo com a lei. A coordenadora do núcleo de fauna do Ibama de Santa Catarina, Gabriela Breda, explica que os interessados devem procurar o órgão, que indicará quais são os criadouros autorizados no Estado.

Segundo ela, são 25 criadouros legalizados em SC, enquanto há outros 400 processos de pessoas que já tentaram se registrar. Desde 2008, o Ibama proibiu novas autorizações até que se estabeleça quais espécies não se adaptam fora do meio ambiente natural e que não causariam desequilíbrios, por não serem do país ou do Estado, caso escapassem do cativeiro.
— O sagui, por exemplo, que não é de SC, foi solto aqui e agora compete com animais nativos, ele acaba tirando alimento do macaco-prego — explica.

Além de ter procedência anterior a 2008, os criadouros devem respeitar regras de cuidado com os animais, fornecer relatórios anuais ao órgão ambiental, contar com profissionais especializados e ter a comprovação de que os pais dos bichos vêm de cativeiro, pois a lei atual proíbe a retirada de mais animais da natureza. Apesar das restrições, a funcionária do Ibama diz que os cativeiros comerciais "bem-intencionados" não encontram dificuldades em manter a autorização e os que procuram um animal silvestre ainda podem encontrar com todos os documentos e garantias do Ibama.
— Só que tirar animal da natureza — ou incentivar quem tira —, nem pensar — destaca Gabriela.

Fiscalização e investimento insuficiente para combater o tráfico
A maior dificuldade apontada por quem trabalha no combate ao tráfico ilegal de animais silvestres é a falta de investimento e de efetivo. O Ibama tem quatro profissionais para fiscalizar todo o Estado, quantidade que o próprio órgão admite ser insuficiente.

No Centro de Triagem e Reabilitação de Animais Silvestres (Cetras) da Polícia Ambiental, em Florianópolis, há 10 policiais ambientais e um veterinário. Além da reabilitação, o Centro avalia as condições de vida de aproximadamente dois mil animais por ano. Mas, só em animais legalizados, a estimativa do Sargento Marcelo Duarte, que trabalha no Cetras, é que existam 300 mil.
— Nossa estrutura é infinitamente menor do que o problema — lamenta.
— A maioria das autuações criminais que a PF faz é por deficiência da fiscalização. O que também atrapalha é que o tráfico se processa de várias maneiras — concorda o chefe do Núcleo de Operações da divisão de crimes ambientais da PF, Carlos Tavares da Costa.
 Maior parte das ocorrências ocorre por denúncias, de acordo com Marcelo Duarte
Segundo Tavares, existem criadouros comerciais legais que, para faturar mais, tentam "legalizar" animais do tráfico, fraudando documentos. Como os animais dentro da lei têm que ter pais de cativeiro legalizado e com registro, um exame de DNA já permite saber se os documentos são falsos ou não. Porém, cada teste custa R$ 80 e nem sempre há recursos suficientes.

Se as estratégias do crime exigem efetivo e investimentos nem sempre disponíveis, por outro lado, elas ajudam a revelar as ilegalidades. O operador de equipamento de segurança postal dos Correios da Capital Adilson Trindade costuma chamar a PF quando encontra animais nas correspondências.
— Encontrei uma iguana enrolada em fita adesiva para não se mexer e não furar caixa de papelão com as unhas, é muita maldade — afirma.

Outro grande aliado é o cidadão que denuncia. O Sargento da Polícia Ambiental, Marcelo Duarte, destaca que a maior parte das ocorrências registradas ocorre por denúncias e reforça que está na Constituição Federal que é dever do Estado e obrigação de qualquer pessoa zelar pelo meio ambiente.

Atrás das grades
Para salvar os animais apreendidos do tráfico ilegal, não basta livrá-los das grades. O bicho retirado da natureza e que ficou muito tempo preso, além de apresentar ferimentos e o trauma do sequestro, não sabe mais interagir com os outros indivíduos da sua espécie, não tem imunidade e nem consegue realizar as atividades comuns, como procurar comida, demarcar território ou se defender de outros bichos.
— Em grandes projetos de soltura, é comum as aves não saírem da gaiola, que é o local onde se sentem seguras — conta o especialista no comportamento dos animais em cativeiro e membro do Conselho Regional de Medicina Veterinária de Santa Catarina, Rogério Leonel Vieira.

Por isso, ele diz que há casos em que não é viável o retorno dos animais à natureza, devendo-se investir em cuidados específicos nos próprios cativeiros. Entre as alternativas estão espalhar alimentos pela gaiola e colocar as aves em viveiros — em vez de gaiolas —, para criar desafios e aproximar as atividades às que seriam enfrentadas na natureza.

O veterinário destaca, no entanto, que algumas espécies não podem ficar presas, como o sagui. O animal parece de pelúcia quando pequeno, mas se torna agressivo quando adulto. Para os tipos de animais silvestres que conseguem se adaptar, como alguns passarinhos, Vieira acredita que há formas dos bichos ficarem bem em cativeiro, principalmente se já tiverem nascido nessa condição.

— Se deve levar saúde e bem-estar para o cativeiro, seja de animais silvestres ou domésticos. Tem gente que diz que é contra gaiola, mas deixa o cachorro em um apartamento minúsculo — compara.

Já o Sargento da Polícia Ambiental, Marcelo Duarte, aposta no trabalho para o retorno dos animais à natureza.

— Para colocar o passarinho na gaiola, leva dois minutos. Para soltá-lo de novo na natureza, demanda muito tempo, dinheiro, mas é possível.

O ponto em que todos os especialistas concordam — e lamentam — é a questão cultural e o desejo das pessoas de criar os animais — inclusive silvestres.

— Por que que o passarinho tem que cantar na minha casa e só para mim? — questiona o Sargento Marcelo.

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