segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Tráfico de Animais em SC


TRÁFICO DE ANIMAIS

Eles não estão à solta

Uma prática que assusta pelo alto índice, os crimes cometidos contra animais silvestres tem em Santa Catarina um Estado receptor e rota de passagens de traficantes

O tráfico ilegal de animais silvestres assusta veterinários, policiais, especialistas, órgãos fiscalizadores e preocupados com a fauna. De acordo com a Associação Brasileira Veterinária de Animais Selvagens, a negociação ilegal dos bichos perde só para o tráfico de armas e drogas.

A Polícia Ambiental de SC registrou 1.987 ocorrências de crimes de fauna até agosto. A Polícia Federal no Estado informa que, só neste ano, foram apreendidos cerca de 400 bichos.

O Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) aponta que foram encontrados em torno de 1,2 mil animais nativos no tráfico ilegal em 2011. A última operação, finalizada no dia 30 de setembro, no Alto Vale do Itajaí, reteve 150 animais em dois dias. Eles foram encaminhados a locais especializados, como zoológicos e centros de reabilitação ou de preservação das espécies.

Na maioria dos casos, os bichos são encontrados em precárias condições de sobrevivência, sem água nem comida.

– Em uma das nossas apreensões, encontramos 71 animais, entre araras clorópteras, canindés, papagaios, todos morrendo de fome. Como eles precisam comer de duas em duas horas, tivemos que parar tudo e começar a alimentar um por um – conta o chefe do Núcleo de Operações da divisão de crimes ambientais da PF, Carlos Tavares da Costa.

Animais silvestres são todos aqueles que, naturalmente, seriam criados em liberdade. Outra categoria são os domésticos, como gatos e cachorros, que viveram o processo histórico de domesticação pelo homem. Há, ainda, os exóticos, que não são nativos do Brasil, como o leão e o elefante. Vários tipos de animais silvestres estão no alvo do tráfico, como araras, tucanos, saguis e cobras.

SC não é um berço comum dessas espécies, próprias das regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste. O Estado é apontado como um importante mercado receptor e como rota de passagem, onde os traficantes param para descansar e tentam alimentar e dar água aos animais. Mesmo assim, poucos bichos sobrevivem ao percurso.

– De 60% a 70% dos animais morrem no transporte. O tráfico é um crime duplamente qualificado, pela retirada do animal do ambiente natural e por causar a morte – explica o professor Jorge Freitas, biólogo da UFSC.

Além do alto índice de morte, os traficantes pegos enfrentam ações criminais. Entre as penas previstas para quem mata, persegue, caça, apanha ou utiliza espécie da fauna silvestre sem a devida autorização, estão a multa ou até a detenção, em casos mais graves.

Segundo o agente Tavares, da PF, os traficantes insistem no negócio pela compensação financeira. Ele destaca que os preços dos bichos aumentam pelo risco de autuação, dificuldade de captura, grau de extinção – animais mais raros são mais caros – e pela dificuldade no transporte. Uma arara azul de lear (Blue do desenho Rio), por exemplo, pode chegar a custar R$ 150 mil no exterior.

Mas até a pessoa que pagou R$ 50 há anos para ter em casa um papagaio silvestre sem a autorização do Ibama comete crime ambiental. Como explica a coordenadora do núcleo de fauna do Ibama de SC, Gabriela Breda, a pessoa teve a opção de escolher um animal de estimação de um criadouro comercial legal, que não vai ameaçar a espécie e nem que traz sofrimento aos animais.

– O preço dos animais de criadouros legais é mais alto justamente porque eles têm que investir para os bichos terem bem-estar, enquanto os outros, só tiram da natureza. Animal de tráfico é animal sofrido, jogado em qualquer canto – conta.

gabrielle.bittelbrun@diario.com.br
GABRIELLE BITTELBRUN

(de http://www.clicrbs.com.br/diariocatarinense/jsp/default2.jsp?uf=2&local=18&source=a3518401.xml&template=3898.dwt&edition=18107&section=846)


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